20.2.11
Postado por
Sávio Hackradt
Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania
Marígia Tertuliano - Profªa da UNP
Essa semana a descoberta da sonhada receita da CocaCola foi assunto em verso e prosa. Os jornais de todo mundo noticiaram que depois de 125 anos, guardada a sete chaves, a fórmula da empresa mais internacional do mundo havia sido descoberta. A notícia foi impactante. Noticiários surgiram com diferentes enfoques. Entretanto, um chamou-me atenção, pois referenciava um velho conhecido dos nordestinos - o coentro (Coriandrum sativum), tempero ou condimento bastante apreciado na culinária nordestina. Aquele que misturado ao feijão, dá a este um sabor especial.
Pois bem, no momento em que os noticiários discutiam a fórmula da CocaCola, eu, recém-chegada à “pauliceia desvairada”, vivenciava uma das cenas mais surreais de minha vida: uma senhora, catadora de papelão, puxando uma carroça, como um animal e, ao seu lado, um carrinho de bebê com duas crianças que aparentavam um e dois anos, respectivamente. No Nordeste, infelizmente, estamos habituados a ver carroceiros e suas carroças - geralmente puxadas por animais irracionais e seus filhotes.
No Sudeste, aquela cena fez-me refletir sobre a condição humana - a desigualdade impera e nós parecemos não querer enxergar essa realidade; damos importância a fatos como o da CocaCola e pouco às soluções que viabilizem a inserção social e diminuição da miséria. Estamos mais céticos e individualistas?
O individualismo e a individualidade tornam-se fonte de inspiração. Ao longo do percurso a diversidade, as diferentes culturas e cultos pareciam borboletas saindo do casulo. O espaço tomou outros ares, e ao longo da caminhada, homens vestidos de modas e modelos: argolas nas orelhas; andanças em grupo.
A paisagem muda. A cultura toma conta do espaço. Surge o Teatro Augusta, um centro de conhecimento - Faculdade FAM, reflexos de solidão. Jovens solitários refletindo sobre a vida; um centro de cultura árabe-sírio. O que representaria? Costumes, tradições. Segurança. Policiais assistindo a paisagem, imóveis. Homens e mulheres primando pela paz. Que paz?
O cenário muda, a Avenida Paulista se aproxima. Drogaria com nome retrô - Belas Artes - faz jus ao cinema que acabará no dia 24/02. Declarações, emoções são trazidas para aqueles que procuram os Correios - cartas manuscritas ou computadorizada, não importa. A notícia deverá chegar. E, com ela? A realidade daquela família de miseráveis, que nos referimos no início?
O comércio toma conta do cenário, aparecem os chineses e suas casas, duvidosas é verdade. E a caminhada continua. A natureza representada pelos pombos, que convivem em paz com os transeuntes, sem-medo, natural. Não sei. O que sei é que dão o tom aquela rua.
A caminhada continua, o high tech pede passagem. Surgem lan houses - lotadas de crianças em horário escolar. O que estão pesquisando, não se sabe. Um hotel, onde vagas de postos de trabalhos são expostas: arrumadeira, recepcionista, cozinheiro, faxineiro, motorista. O centro nervoso do mercado financeiro está chegando. Aparece o primeiro banco, em seguida revenda de carros de luxo; uma loteria, a sorte está lançada. E a daquela família?
Antes deles, uma loja diferente chamada de colaborativa. O desconhecimento fez-me conversar com um vendedor semi analfabeto, mas de aparência “cult”- antenado nas tendências e assassino da língua portuguesa (nós faz permuta, a primeira pérola). Entretanto, a sua presteza fez-me relevar a ignorância e lhe perguntar: o que é uma loja colaborativa? Ele, prontamente respondeu - os estilistas novatos expõem os seus produtos nessas araras; pagam um imposto de 15% e, em troca, nos pagam o aluguel do espaço. E, vocês não recebem nada pelas vendas? “Não. Recebemos apenas o aluguel”.
Mais uma vez, veio a minha mente a imagem daquela senhora. Por que ela não está assumindo esse posto de trabalho? Aquelas crianças mereciam uma oportunidade.
Enfim, tudo que não vi naquela caminhada foi colaboração.
Mais caminhada e passa por mim um moleque carregando uma caixinha de engraxate. Na caixinha um mangá, histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês, a qual demonstrava a força de um menino – o cavaleiro do zodíaco. Pensei: e a escola? Mais um a querer ganhar ou receber o que promove o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Mais alguns metros, a Paulista estava a chegar. Antes dela uma escola de línguas; um templo do consumo; uma rádio FM – música para alegrar a todos e finalmente, os mantenedores do consumo – bancos, bancos e bancos. Vocês devem estar me perguntando. Que caminho longo. De onde vinha? Para onde vai?
Voltando ao ponto de partida: a CocaCola desmentiu o fato; o coentro se for verdade, continuará na fórmula do líquido negro, mas aquela família não terá condição, no curto prazo, de desmentir essa informação. Sabe por quê? Em virtude do atraso de alguns indivíduos, que antes de pensarem políticas públicas, pensam na política do umbigo.
E, eu? Aonde iria depois de tanto caminhar? Adquirir livros. Visitar uma livraria - lugar belo, recheado de possibilidades - e espaço do conhecimento. Conhecimento que livraria aquela senhora, sua família e aquela criança engraxate da escuridão promovida pela falta de oportunidade às necessidades básicas, direito que se encontra estampado na Constituição Brasileira.
Estação Música Total
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Anderson Marques says:
Infelizmente temos visto, sem olhar, estas cenas em nosso cotidiano e não temos nos preocupado com nosso atual quadro social, com passos largos caminhamos para o conformismo...Anderson Marques, aluno de Gestão Pública da Unp.