26.3.11
Postado por
Sávio Hackradt
Folha de São Paulo com Agências de Notícias
A Agência de Segurança Nuclear do Japão informou neste sábado que detectou uma concentração de iodo radioativo 1.250 vezes superior ao limite legal na água do mar na área próxima à usina nuclear de Fukushima.
Em entrevista coletiva, um porta-voz do organismo detalhou que os índices alarmantes foram detectados no início da manhã deste sábado em mostras de água do mar recolhidas muito perto da usina. O nível registrado ontem era 140 vezes superior ao limite.
O índice deste sábado representa que, se um adulto bebesse meio litro desta água, receberia uma radioatividade de 1 milisievert, detalhou o porta-voz.
Os operários dão prosseguimento neste sábado aos esforços para restabelecer o sistema de resfriamento dos reatores, danificado pelo devastador terremoto e o posterior tsunami que em 11 de março assolaram o nordeste do Japão.
Na sexta-feira foram detectados altos níveis de radioatividade em água acumulada em vários locais da central, o que fez com que dois operários fossem hospitalizados e impediu a continuação dos trabalhos para ativar as bombas de água.
Agora a empresa operadora da usina planeja como retirar a água contaminada das salas de turbinas de vários reatores.
Enquanto isso, continua a injetar água a partir de caminhões para evitar um superaquecimento: na sexta-feira começou a ser feito o lançamento de água doce sobre as unidades 1 e 3, em vez de água do mar, para evitar que o sal cristalizado bloqueie válvulas e encanamentos.
Neste sábado será feito o mesmo no reator 2, que hoje deve voltar a ter eletricidade, ao menos parcialmente, em sua sala de controle, algo que já acontece nos reatores 1 e 3. O reator 3 é considerado o mais perigoso, já que é o único que além de urânio contém plutônio.
SITUAÇÃO "GRAVE"
Em seu primeiro pronunciamento público nos últimos sete dias, o primeiro-ministro do Japão disse que a situação do vazamento nuclear na usina número 1 de Fukushima ainda está "longe de ser resolvido" e que o governo permanece vigilante, embora os esforços concentrem-se em "evitar que o problema fique pior".
"Estamos nos esforçando para evitar que a situação piore, mas sinto que não podemos nos tornar complacentes. Precisamos continuar vigilantes", disse Kan.
"A situação hoje na usina de Fukushima ainda é muito grave e séria. Não estamos numa posição em que podemos ser otimistas. Devemos tratar cada desdobramento com cuidado extremo", complementou.
O posicionamento do premiê chega no mesmo dia em que dois técnicos que trabalham para conter o vazamento foram hospitalizados por radiação sofrida na usina nuclear danificada.
O acidente, ocorrido na quinta-feira, ainda não teve suas causas reveladas, mas pode ter sido consequência de uma ruptura grave no reator 3, elevando a probabilidade de que a contaminação da água e lençois freáticos seja maior do que se esperava.
O fato também coloca sob holofotes a decisão do governo de não pedir que moradores de um raio maior ao entorno da usina abandonem suas casas.
Nesta sexta-feira, mais uma vez o governo não emitiu um alerta de evacuação, e limitou-se a pedir que moradores num raio de 20 a 30 km ao redor da usina "deixem suas casas de forma voluntária".
GRÁFICO 1
Embora a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), da ONU (Organização das Nações Unidas) tenha informado que os dois podem ter alta em breve, o acidente trouxe à tona perspectivas de que o potencial de contaminação seja muito maior do que se previa.
Os dois tentavam resfriar um dos reatores mais críticos da usina, na quinta-feira, quando foram expostos a níveis de radiação 10 mil vezes acima do previsto, fato que levou ao receio de que exista um vazamento no invólucro do núcleo do reator.
CONTAMINAÇÃO
"Segundo informações que recebemos do Japão, eles provavelmente terão alta na próxima segunda-feira (28). Mas na minha perspectiva médica, se eles têm algo grave, não deverão ter alta na segunda", disse Rethy Chem, diretor de saúde humana da AIEA, em entrevista coletiva.
Chem disse que é "exagero" descrever como queimaduras as lesões que os homens sofreram nos pés, mas que está claro que eles foram contaminados.
Acredita-se que os técnicos, que trabalhavam em uma sala de turbinas, tenham ignorado os alarmes em seus equipamentos de monitoramento da radiação.
O reator em que eles trabalhavam, o número 3 (de seis ao todo), é o único a usar plutônio em seu misto de combustível, sendo portanto mais tóxico que os outros, que empregam apenas urânio. O Japão pediu uma investigação para averiguar a razão do aparecimento repentino de níveis tão altos de radiação.
ESFORÇO EM EQUIPE
Mais de 700 engenheiros vêm trabalhando em turnos para estabilizar a usina danificada por um terremoto e um tsunami.
"Pouca coisa mudou na usina Fukushima Daiichi nas últimas 24 horas. Algumas tendências positivas continuam, mas restam áreas de incerteza que causam preocupação séria", disse um alto funcionário da AIEA, Graham Andrew.
GRÁFICO 2
Autoridades nucleares japonesas sugeriram que o recipiente de pressão da unidade poderia ter sido danificado, porém mais tarde minimizaram esse risco.
Questionado sobre como é possível que a radiação esteja saindo da usina se não houve danos ao receptáculo do reator, Andrew disse que ela pode estar vindo do vapor emitido pela usina superaquecida.
Ele disse ainda que a radiação parece estar vindo do núcleo de combustível altamente radiativo, e não dos tanques que contêm combustível usado na usina, que também são motivos de preocupação.
VÍTIMAS
Duas semanas depois do devastador terremoto e tsunami que atingiram o Japão, a Polícia Nacional contabilizou 10.102 mortes confirmadas. Outras 17.053 pessoas ainda estão desaparecidas e mais de 240 mil ainda estão em 1.900 abrigos por todo o país.
O número final de vítimas ainda deve aumentar. As buscas por vítimas na província de Fukushima foram interrompidas diante da crise nuclear na usina de Fukushima Daiichi. Já em Myiagi, afirma a agência de notícias Kyodo, as autoridades estimam que muitos corpos devem ser recuperados do mar.
A polícia de Myiagi divulgou em seu site informações sobre mais de 2.000 corpos recuperados, incluindo detalhes de tamanho e roupas, na esperança de identificá-los.
Em Iwate, Myiagi e Fukushima, as mais afetadas pelo tremor, foram realizadas autópsias em 9.890 corpos. Destes, cerca de 6.890 foram identificados e 6.320 foram devolvidos para suas famílias.
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