CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

15.3.11


Artigo do Jornalista Vicente Serejo em sua coluna CENA URBANA no Jornal de Hoje edição 11/03/2011. Abaixo transcrevo na íntegra:       
Só agora, e só poderia ser agora, fora do poder depois de vinte anos - três mandatos na Prefeitura de Natal e dois no Governo do Estado - o PSB da ex-governadora Wilma de Faria sente o quanto é desafiador manter a coerência e exercer a oposição que as urnas impõem. Principalmente numa cultura política com a prática de alianças sem identificação ideológica e partidos transformados em propriedades, áreas de serviço dos interesses pessoais e gerenciados como heranças familiares.
Essa prática histórica que amontoa partidos em torno de interesses e não de programas - exigir ideologia seria muito - ao longo da nossa história republicana, explica a utilidade e eficiência na base do ‘se os outros fazem e é bom, não custa fazer também’. Mas há de se reconhecer que é de um poder desorganizador absoluto da cultura política brasileira, a partir de velhas raízes oligárquicas que ainda sobrevivem numa capilaridade que encontra terreno fértil mesmo nos albores do terceiro milênio.
Nossa matriz ideológica, para citar um exemplo contemporâneo, tem a flacidez das posições sempre volúveis. Nem Aluizio Alves, testado no calor de uma luta como a de sessenta, resistiu a ficar longe das alianças oportunistas. Pareceu resistir e, para se manter, inventou uma Arena Verde diante da Arena Vermelha de Dinarte Mariz, o líder civil do governo militar. Cassado em 1969, ficou fora do poder e liderou a oposição contra o então governador Cortez Pereira de forma dura e inflexível.
O tempo provou que não era por determinação, mas por falta de escolha. Dinarte controlava as portas do Palácio do Planalto. A resistência durou um governo de cinco anos. Quando Tarcísio Maia foi escolhido para governar, e mesmo sendo fruto da fina flor dinartista, com forte desempenho de oposição ao Governo Aluizio Alves, e posto que o desejo de poder era mais forte, fez a aliança da Paz Pública, gesto que caiu no sentimento popular como uma rendição que o povo puniu nas urnas.
Essa matriz serviu de jurisprudência a tudo que se seguiu depois. Lavoisier substituiu Tarcísio no governo biônico e este premiou o filho do primo com a Prefeitura de Natal, onde foi preparado para ser candidato ao governo num possível retorno às eleições diretas para os mandatos executivos. Não deu outra: o menino de Tarcísio, para repetir a ironia de Dinarte, derrotou Aluizio e o próprio Dinarte recuou satisfeito com a eleição do filho e vítima de chantagem federal que nunca denunciou.
Tudo aconteceu. Wilma rompeu e foi prefeita de Natal na segunda tentativa; Lavoisier foi candidato do então governador Geraldo Melo contra José Agripino, símbolo do tarcisismo; o grupo Maia marcou triplo na eleição do Colégio Eleitoral apoiando Aureliano Chaves, Mário Andreazza e Paulo Maluf; os petistas aliaram-se a Wilma; e Garibaldi Filho e José Agripino, juntos, elegeram Rosalba Ciarlini para o Senado e o Governo, um do lado de Dilma Rousseff e o outro com José Serra.
O episódio mais recente - basta ter o olhar sem antolhos para perceber - é a presença de dois nomes representativos da autenticidade wilmista no novo secretariado da prefeita Micarla de Souza: Vagner Araújo, secretário do planejamento e gestor do orçamento nos dois governos de Wilma, seu chefe da Casa Civil e candidato a vice-governador; e o ex-deputado Cláudio Porpino, nome dos mais íntimos da ex-governadora, como se suas nomeações pudessem acontecer sem qualquer justificativa.
Pelo visto, a ex-governadora Wilma de Faria sequer foi consultada pelos seus liderados que aceitaram aderir à prefeita Micarla de Souza. Talvez apenas comunicada. Na prática, seria fazê-la aderir ao governo micarlista. Por isso quebrou o silêncio e exigiu que renunciassem ao partido. Sob pena da pecha de adesista lhe cair muito cedo sobre os ombros, rasgando a bandeira de oposição que tem mantido hasteada. E um adesismo em troca de nada, gratuito e desgastante, feito de retalhos.

0 comentários:

Postar um comentário


Estação Música Total

Últimas do Twitter



Receba nossas atualizações em seu email



Arquivo