29.4.11
Postado por
Sávio Hackradt
Em entrevista ao Blog de Walter Sorrentino, o presidente do Comitê Municipal do PCdoB em Mossoró, Gutemberg Dias, fala sobre a experiência em uma revista de política, cultura e humor, a Papangu.
Gutenberg, acho incrível Papangu, já no número 68. Um achado! Como tudo começou?
A Revista Papangu foi um sonho, que virou realidade, do amigo chargista Tulio Ratto. Ele é o idealizador e mentor intelectual dessa revista que considero a única do gênero editado no Brasil. A revista teve sua primeira edição no ano de 2004. Uma característica da revista, além do humor, é a sátira política. Numa classe política tão ciosa, tão conservadora como a potiguar – e talvez a mossoroense, em particular —, digamos, ajudou bastante na consolidação da Papangu.
Mossoró tem tradição cultural forte, não é assim? Como isso influenciou a iniciativa de Papangu?
Existe muita propaganda enganosa quanto ao nosso quadro cultural. E isso daria um trabalho enorme de explicar. Com 69 números da Papangu ainda não conseguimos esse feito. Todo mês tem algo novo do velho hábito governamental: mentir e enganar. Quanto as influências, tudo começou como uma brincadeira. Túlio Ratto diz que viu uma publicação daquelas “reiêras” (fraquinhas), aí disse: ‘Pô, se isso aqui consegue leitor, por que uma coisa mais estilizada, mais trabalhada, mais cuidada, não pode dar certo?’ Foi aí que a Papangu nasceu. Sem muita pretensão. Entretanto, no terceiro número, quando os figurões da política potiguar desfilavam nas páginas da publicação e já se sentiam incomodados, Túlio diz que viu que o negócio era sério. Era para fazer rir também, mas era sério.
Difícil fazer uma revista dessas? Matar um leão por dia? Como ela se financia?
Fazer a Papangu é um desafio diário. Lançamos um número e no dia seguinte já iniciamos a produção da próxima edição. Como temos matérias que buscam discutir temas relevantes é necessário que a jornalista responsável desenvolva um trabalho de pesquisa que consiga levar o máximo de informação ao leitor e isso dá um trabalho enorme. O fechamento da edição é o momento de maior pressão, como temos vários colaboradores, precisamos receber todo o material para ser revisado e diagramado com certa antecedência, como sempre temos alguns retardatários (sempre estou nesse grupo!) que deixam para a última hora e o “cafofo da Papangu” vira uma loucura.
Além das dificuldades de produção, temos uma que impacta decisivamente na revista, a questão do financiamento. Atualmente a revista tem o apoio da Lei Câmara Cascudo, que disponibiliza recursos advindos do recolhimento de ICMS, esse incentivo é atrelado a captação de financiadores que precisam entrar com uma contrapartida. Como o apoio da lei por se só não paga todos os custos de produção, também, buscamos financiamento a partir da venda de espaços publicitários. No geral, como disse você na pergunta, temos que matar um leão por dia para que a revista continue viva e levando cultura, irreverência,saber e muita sátira-política aos leitores.
Na dimensão política e social, como a revista incide sobre a realidade da cidade e do Estado?
Eu vejo a revista como uma ferramenta de discussão política e social. Não temos censura sobre os colunistas que tratam sobre vários temas de interesse coletivo e o material produzido pela editoria da Papangu não tem amarras. Com isso quero dizer que não fechamos os olhos para os acontecimentos que são notícias, mesmo que isso possa incomodar qualquer um dos nossos apoiadores, como aconteceu várias vezes com o governo do estado do Rio Grande do Norte, que em algumas edições trouxemos na capa a ex-governadora Wilma de Faria sendo cobrada por atos de seu governo que julgamos passíveis de cobrança. Por ser editada em Mossoró, temos um olhar diferenciado para tudo que ocorre aqui, um exemplo claro foram as edições 67 e 68 que tratamos de um tema que envolveu diretamente o ataque sistemático a mídia independente por parte do poder municipal que chegou ao descalabro de patrocinar uma equipe de jornalistas para criarem um blog apócrifo com objetivo de insultar e difamar aqueles que elevavam as vozes contra a administração local. Num contexto geral, a revista contribui para a informação e formação de seus leitores, pois consegue juntar num mesmo ambiente várias cabeças pensantes que discutem desde o cotidiano político-social até questões culturais, inclusive temos um espaço reservado a poesia e aberto à contribuições.
Você abraçou as causas progressistas e socialistas desde cedo, não é mesmo? Como foi sua trajetória?
Realmente comecei desde cedo. Lembro que meus primeiros contatos com as causas progressistas e socialistas foram na companhia do amigo Urbano Medeiros quando esse fazia movimento estudantil na cidade de Caicó/RN em parceria com Canindé de França, nesse período eu deveria ter uns dez anos de idade. A partir daí comecei a me integrar com maior frequência no movimento estudantil. Para você ter uma idéia em 1988 já era presidente de um Centro Cívico da maior escola estadual do município de Santa Cruz/RN, isso aluno da sétima série do antigo ensino fundamental. Nesse período me envolvi diretamente na luta pelas eleições diretas nas escolas, fundação de algumas entidades estudantis em vários municípios do RN e, posteriormente, no movimento dos caras pintadas, nessa ocasião já era aluno da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte. Na universidade também participei ativamente das lutas estudantis e políticas.
Esse trabalho tem revertido para organizar um coletivo de cultura dos comunistas no Estado?
O coletivo de cultura no estado é, ainda, disperso. Temos vários camaradas que militam na área de cultura, mas não conseguimos estabelecer um núcleo coeso que possa fomentar uma produção mais sistematizada. A Revista Papangu é uma produção livre que tem a chama progressista e cultural, nesse sentido não tenho dúvidas que o trabalho que iniciamos junto a revista poderá, num futuro próximo, se reverter na construção de um coletivo de cultura estadual, haja vista o leque de conhecimento adquirido em relação ao movimento cultural do estado.
Como você vê as perspectivas políticas em Mossoró em 2012?
O município de Mossoró é um caso impar na política brasileira. Temos um família que administra a cidade há mais de seis décadas e que em 1988 se dividiu para manter o poder local. Para se ter uma idéia as disputas políticas estão centradas, basicamente, em dois ramos da família, um capitaneado pela deputada federal Sandra Rosado (PSB) e outro pelo ex-deputado Carlos Augusto Rosado (DEM), que é marido da atual governadora do estado, Rosalba Ciarlini. Ainda, temos um outro ramo da família que chegou ao poder em 2004, com apoio da atual governadora, mas que apresenta um elevado desgaste a frente da administração municipal. Para 2012 vejo um cenário político aberto, principalmente, em função dos resultados do pleito de 2008, que reelegeu a atual prefeita, mas deixou aberto uma porta larga para 2012, haja vista que seu agrupamento político não tem um candidato forte para sua sucessão. Atualmente o nome mais forte, com base em algumas pesquisas, é o da deputada estadual Larissa Rosado (PSB), na dianteira com quase 30% das intenções de voto. Mas, mesmo assim, os números mostram que ela precisa se cuidar, não tem muita folga quando comparado com a soma de outros nomes. Creio que uma candidatura fora do núcleo familiar Rosado, desde que não caia no isolacionismo e que seja construída a partir de agora, terá chances de disputar uma grande parcela do eleitorado, e se não chegar a vitória, poderá pavimentar um projeto político diferente para o futuro de Mossoró. Em 2008 esse modelo começou a ser posto em prática e o PCdoB esteve presente na parceria com PR, quando o Partido rompeu com o tradicional e optou por uma via diferente na política local, inclusive indicando o nome do candidato a vice na coligação.
Você participou do Encontro Nacional do PCdoB deste ano, que achou?
O 7º Encontro Nacional do PCdoB foi muito importante para impulsionar a organização partidária. A linha de discussão adotada veio de encontro aos anseios dos Comitês Municipais, principalmente, os dos maiores municípios do Brasil. Abrir um canal mais amplo de comunicação e acompanhamento político do Comitê Central para com os Comitês Municipais tende a fortalecer a luta política e ideológica e, sobretudo, fortalecer os projetos políticos do Partido para o embate eleitoral de 2012. É importante frisar, também, que o evento revigorou o papel militante e dirigente dos camaradas que se fizeram presentes.
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