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Sávio Ximenes Hackradt

25.8.11


No Brasil é fácil reunir centenas e centenas de pessoas em uma caminhada a favor da maconha, milhares em uma comemoração futebolística, mas não se consegue juntar a sociedade em defesa da educação pública e de outras questões básicas do povo. A greve dos docentes da UERN e da rede estadual de ensino é uma prova disso.
Por Antonio Capistrano ex-reitor da UERN


A sociedade norte-riograndense está apática, alheia, parece que não está ocorrendo nada, é como se a UERN não existisse ou não tivesse importância nenhuma para o Rio Grande do Norte, como se ela não fizesse falta.
A UERN, apesar de todas as dificuldades, é uma instituição de ensino superior que vem prestando bons serviços ao povo do nosso Estado, especialmente nas regiões que durante muito tempo ficaram sem oferecer aos seus filhos a oportunidade de cursar uma faculdade. Quem desejasse fazer um curso superior teria que se deslocar para Natal ou outra capital do Nordeste, tal como Fortaleza, João Pessoa ou Recife.
A criação da Universidade Regional do Rio Grande do Norte foi um passo importante na solução desse problema. A falta de uma Universidade que suprimisse as necessidades de profissionais de nível superior, principalmente para o magistério, na Região Oeste, no Vale do Assú e nos municípios fronteiriços da Paraíba e Ceará, foi sanada com a criação da URRN, hoje UERN. A nossa Universidade foi criada como uma Fundação Municipal, ela, mesmo funcionando com dificuldades, supria a necessidade de uma instituição de ensino superior nessas regiões.
Mesmo tendo sido criada pelo Município de Mossoró, no final da gestão de Raimundo Soares (1968), ela nunca foi bem vista pelos alcaides mossoroenses. Segundo eles, a universidade era um peso para o erário municipal, mesmo com a sua manutenção compartilhada com os alunos. Os prefeitos reclamavam dos repasses que faziam.

Nessa época os professores eram muito mais colaboradores do que profissionais da instituição, chegamos a ficar dez meses sem receber salários. Isso foi possível nos primeiros anos da instituição. Com o crescimento e a necessidade da profissionalização dos seus quadros docentes e do pessoal técnico-administrativo, foi necessário buscar uma solução definitiva. A FURRN não poderia continuar sendo uma instituição amadora no oferecimento de cursos de nível superior.
Foi a partir dessa constatação que um pequeno grupo de professores iniciou um movimento com o objetivo de criar uma entidade de classe que pudesse liderar a luta pela definição institucional da URRN. Com esse objetivo foi criada a Associação dos Docentes, a heróica ADFURRN, fato ocorrido no dia 10 de setembro de 1980.
Era o inicio de todo um processo de transformação da URRN, que culminou com a sua estadualização. Foi uma luta difícil, que contou com a mobilização de toda sociedade potiguar. Ocorreu uma grande pressão popular, conduzida pela liderança do reitor da época, Padre Sátiro, tendo como esteio principal e basilar a ADFURRN.
Após a estadualização, as dificuldades com o Poder Executivo continuaram, a partir de então com os gestores estaduais, com menos intensidade nos governos de Geraldo Melo e Wilma de Faria. Geraldo foi o governador da estadualização, ele deixou a universidade à vontade na elaboração do seu novo estatuto e no tipo de universidade que os diversos segmentos queriam criar. O outro governo, o da Professora Wilma de Faria, sempre teve um olhar de compromisso com a instituição, existia um bom relacionamento entre o governo e a UERN.
José Agripino e Garibaldi Alves, neoliberais por convicção, não olharam com bons olhos para a UERN. Diminuir a máquina estatal, com uma política de arrocho salarial, era o que interessava. Foi um momento de achatamento salarial.
No governo Rosalba, o neoliberalismo voltou com toda força, o enfrentamento com os servidores públicos, a diminuição da máquina estatal, a utilização da Lei de Responsabilidade Fiscal, do famigerado Limite Prudencial, como argumento para o arrocho salarial, voltou a ser prioridade. Não existe diálogo, o governo impõe a sua vontade, e pronto.
O pior é a apatia da população, a falta de interesse do povo pela escola pública. A UERN está em greve há mais de três meses, e grande parte da mídia, amordaçada pela força de um governo que sabe utilizar as armas do poder, não diz nada. Na Assembléia Legislativa, a oposição sem espaço para ecoar as suas denúncias fica neutralizada. O povo, sem informações corretas, se posiciona contra a greve. O que fazer então? Acho que o movimento grevista necessita de uma nova estratégia de luta, precisa sensibilizar a sociedade e trazê-la para o seu lado. O atual governo é neoliberal e privatista por ideologia. Portanto, o arrocho salarial faz parte do seu programa de governo, além de ser privatista ele é favorável a ideia do estado mínimo.

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