CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

12.12.11

“Coisas da vida”Por @LeideFranco*



No amor há contratempos, há tempos contra. “A dor que dói e não se sente” de Camões resvala e se iguala no conceito do amor lúdico belo, logo irreal. Pode ser visto como o abismo que pode levar a um suicídio, ou como a ponte que leva ao céu.

Mas por que mais uma vez o amor está intrinsecamente nessas entrelinhas escritas no vácuo de uma noite?

Porque todo corpo em movimento está cheio de perguntas sem respostas, está cheio de inferno e céu... Sou fragmento desses extremos.

Gosto de utopias e de filosofia, e hoje o caminho seguido foi por entre as páginas do diálogo, duelo de “O Banquete” por Platão, o discípulo de Sócrates, que em 380 a.C tentou definir o amor, e tratou disso como uma espécie de junção entre duas partes que se completam, constituindo um único ser com a sexualidade indefinida, em um caminhar giratório que sai de um lugar, volta ao mesmo do início, e nesse ciclo perpetua a existência humana.

E todo esse amor, segundo Platão, é feito da falta, da necessidade e da nossa particular incapacidade de sermos felizes sós e suficientes para nós mesmos. Ele vem do desejo de possuirmos o que não temos. Sendo assim, o nosso amor próprio não é o bastante para mim, nem para você.

“Do ponto de vista do amor, ninguém é necessário”, Kant vem embaraçando ainda mais essa inexatidão.

É muita filosofia para explicar o que ninguém explica, eu sei! E isso não quer dizer que eu não acredite nos filósofos, mas também não sei se acredito. O amor é uma contradição interminável, talvez seja o meio termo de todas as coisas ou a mediação de todas as outras.

Freud se atreveu, mas deve ter se arrependido. É muito cálculo para uma ciência tão híbrida. O amor foi objeto de estudo para suas psicanálises, isso prova a sua complexidade. No fim, o único desejo comum é de sermos amados, e para muitos enquanto isso não se concretiza, a vida não faz sentido.

O amor que conhecemos hoje tem outra feição, mas as mesmas inquietudes. O amor do mundo atual é um amor de investimento. Doa-se querendo receber de volta. Cômodo e interesseiro. Espera um iminente retorno que suprima toda a falta que ele fez ao ser entregue. Talvez não seja uma fonte renovável como pregam os poetas dos amores românticos.

Mas o amor lírico entre homem e mulher pode sobreviver sem uma relação de trocas, onde o resultado é a satisfação conjunta? Quem disse que o amor poderia ser amor se não fosse uma troca? “É somente pelo amor que o homem se realiza plenamente”, foi o mesmo Platão quem disse.

Continuo contradizendo-me, cheia de respostas sem perguntas...

E que Nietzsche tente explicar:

“Em última análise, amam-se os nossos desejos, e não o objeto desses desejos”.

O amor da filosofia é a contradição.

*Leide Franco - Comunicadora com pretensões literárias; 
Um pouco de filosofia e reflexões cotidianas; 
Um muito de MPB
E quase nada do que ainda quero ser. 
Escreve às segundas-feiras.



2 comentários:

  • Seu texto, Leide Franco querida, dá margem a quilômetros de ilações... O que é o amor, a despeito das definições filosóficas?... Uma projeção especular do que nos falta em outro? Algo narcísico? O reflexo de um estado de maioridade ainda não alcançado. Há muito que se aprender sobre amar a si e aos outros, de uma maneira dadivosa, solidária, plena e intrinsecamente desinteressada. Essas questões ,Leide, volta e meia estão imersas nas reflexões de Flávio Gikovate. Gosto dele. E considero seu post inquietante;)) Beijos!

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